1 de maio de 2024
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Corre uma lenda no Palácio do Planalto de que Bolsonaro não se importa com pesquisa, que não acredita nelas e que confia apenas no seu feeling. O surpreendente ver quanta gente cai nessa. 

Presidentes (e Bolsonaro é igual aos seus antecessores nisso) são fanáticos por pesquisas de popularidade. Quase todos preferem só olhar o copo meio cheio, mas nenhum ignora um termômetro. 

Nessa semana saiu mais uma pesquisa sobre a popularidade do governo, dessa vez pelo Ibope, e pulularam especialistas tentando convencer o distinto público de que nada mudou. Como na piada do sujeito que se joga do 30º andar e na metade da queda diz “por enquanto, tudo bem”.

Sim, a popularidade de Bolsonaro está estável, agora em 31%. Mas este continua sendo o menor índice de um presidente em início de mandato da história! Em três meses, o presidente perdeu 16 pontos percentuais na Região Sul, principal reduto de seus apoiadores.  

De acordo com a pesquisa feita entre 19 e 22 de setembro, a metade dos brasileiros não aprova a maneira de Bolsonaro governar, ante 48% em junho. Os que aprovam o presidente oscilaram de 46% para 44% entre junho e setembro.  

Em nove meses de governo, Bolsonaro gastou toda a boa vontade possível. Um ano atrás, ele foi eleito com 58% dos votos válidos. Em dezembro, 65% tinham uma expectativa de que ele faria um governo bom ou ótimo. É tolice não encarar esses fatos.

Um Bolsonaro menos popular tem efeitos diretos na condução do governo. Foi por ter perdido apoio na largada que Bolsonaro resolveu radicalizar seu discurso, retirar os generais do núcleo do poder e reforçar o poder dos filhos e dos olavistas.

Para segurar a popularidade nesses 30%, JB tornou-se prisioneiro do discurso anticorrupção (o que lhe assegura desavenças com o Congresso), das demonstrações de valentia na política internacional (destruindo as pontes de acordos comerciais) e repetitivo nas brigas com a mídia e possíveis adversários na centro-direita (reduzindo o seu campo político). 

Qual o problema? É que quanto mais tempo passa, menor a paciência da sociedade com o presidente. As melhoras pontuais na economia mal são percebidas e jogar a responsabilidade nos governos passados perde credibilidade. A partir de 2020, Bolsonaro terá que responder sozinho pelos seus atos e não terá nenhuma gordura de popularidade para queimar.

Foto: Evaristo Sá / AFP

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