20 de abril de 2024
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A soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não levou milhares às ruas como os petistas imaginavam, nem provocou radicalizações violentas como parte da mídia e dos militares temiam, mas está recompondo a relação de Jair Bolsonaro com a elite. Está em curso o início de um processo de recuperação do apoio do presidente junto aos mais ricos – justamente a faixa do eleitorado que primeiro deu liderança ao capitão quando faltavam oito meses para a eleição de 2018.

Lula foi o gatilho de uma sensação de que a oposição moderada não conseguiu produzir uma alternativa à Bolsonaro, por mais que o presidente tenha dado milhares de oportunidades para o surgimento de um nome mais sensato. João Doria se perdeu como uma versão de Bolsonaro que sabe usar garfo e faca, João Amoêdo desperdiçou seu potencial com o antiambientalismo do ministro Ricardo Salles e Luciano Huck preferiu se preservar, mesmo sabendo do risco de não se repetir a chance que teve em 2018.

Na esquerda a falta de renovação é mais grave. Lula vai decidir no ‘dedazo’ quem será o candidato em 2022, assim como em 2010, 2014 e 2018. Ciro Gomes é candidato desde 1998 sem ultrapassar os 13%.

Com todos os riscos de fazer previsões no Brasil com anos de antecedência, o cenário mais provável hoje é de uma eleição entre Bolsonaro e o candidato de Lula. Neste caso, o eleitorado mais rico tem zero de dúvida em reeleger o capitão. Vai ser assim até chegar as eleições presidenciais? Não importa. O que importa é que Bolsonaro ganhou uma enorme oportunidade de se reaproximar da elite e sufocar a possibilidade de uma terceira via neste momento. É uma vantagem fantástica para quem já está na presidência e não demonstra timidez em usar o cargo a seu benefício político.

Farialimers

São vários os sinais dessa reaproximação. A euforia dos Farialimers com o Ibovespa caminhando a 115 mil pontos parece caricatural, mas faz parte de um sentimento de que as coisas na economia estão melhorando. A S&P recuperou a nota de crédito do Brasil e indicou a possibilidade de retorno do grau de investimento em dois anos. Os juros caíram para 4,5%, a inflação está abaixo de 4% mesmo com o repique do dólar e dos preços da carne. Nenhum analista sério estima um PIB abaixo de 2% para o ano que vem, com inflação e juros nos níveis atuais.

Uma enquete feita pela Confederação Nacional da Indústria revela essa guinada. Sondagem com 1.914 empresários mostrou que seis de cada dez consideram governo ótimo ou bom e apenas 7% avaliam como ruim ou péssimo. Ironicamente, ao contrário dos governos petistas, este governo não levou a sério nenhuma agenda industrial. O setor é tratado aos pontapés pelo ministro Paulo Guedes como símbolo do empresariado que gosta de reserva de mercado contra estrangeiros e juros subsidiados do BNDES.

Outra pesquisa, essa com extrato de toda população, confirma a popularidade de Bolsonaro com os mais ricos. O Datafolha mostrou mais uma vez que o Brasil tem um terço de pessoas que amam Bolsonaro (30%), os que acham regular (32%) e os que o odeiam (36%). Os índices oscilam pouco desde abril, quando acabou o choque de realidade com o início estapafúrdio do governo. Mas observou o Bruno Boghossian, na Folha, as diferenças na avaliação do governo de acordo com a faixa de renda se acentuaram em onze meses. Nos dois segmentos de renda mais alta (cinco a dez salários e mais de dez salários), 44% dos entrevistados aprovam o governo Bolsonaro. Apenas 28% dos mais ricos desaprovam o governo. (obviamente, a situação é inversa entre os mais pobres, especialmente no Nordeste onde a impopularidade do capitão ultrapassa 50%).

Foto: Marcelo Justo/Veja SP

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