24 de abril de 2024
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Na quinta-feira, 4, Jair Bolsonaro deixou de ser Jair Bolsonaro por algumas horas. Acompanhado do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, o presidente recebeu os presidentes e líderes parlamentares de PRB, PSD, PSDB, PP, DEM e MDB. Juntos, esses partidos somam 196 deputados e 43 senadores. O esforço continuará na semana que vem, quando ele receberá representantes de Podemos, PSL, PR, Avante, SD e Pros.

As vésperas dos encontros foram tensas. Bolsonaro fez sua campanha em cima dos ataques virulentos à “velha política” e gerou um clima de desconfiança com o Congresso ao atacar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. O filho Carlos Bolsonaro afirmou que Maia pretendia chantagear o governo, acusação nunca retirada pelo pai. A teimosia dos Bolsonaros fez primeiro a Câmara e na semana passada o Senado aprovarem um adendo à Constituição reduzindo os poderes do Executivo no contingenciamento de emendas parlamentares.

O presidente do PSD, Gilberto Kassab, a quem o presidente já se referiu como “porcaria”, foi sincero. Depois das conversas protocolares sobre apoio à reforma da previdência, disse que os líderes temiam que Bolsonaro depois de obter a aprovação do projeto, voltasse ao normal. “Vamos voltar a ser achincalhados?”, perguntou Kassab. O presidente respondeu que quem votar pela reforma será considerada da base e quem não votar, será tratado como oposição.

Como o Bolsonaro segue negando entregar cargos e as emendas parlamentares terão um tratamento diferenciado com a nova lei aprovada pelo Congresso, fica a dúvida sobre o que Bolsonaro pode oferecer aos parlamentares em troca de apoio.

É inegável, no entanto, que Bolsonaro avançou uma casa. Nenhum dos dirigentes partidários saiu do Palácio do Planalto pronto para aderir, mas pelo menos se sentiram respeitados – o que é mais do que o presidente tem lhes assegurado. Falta muito.

Na mesma tarde, por exemplo, Carlos Bolsonaro postou no Twitter “se o presidente Bolsonaro não tivesse a população do seu lado esse assunto jamais seria tratado como está sendo. É nítido que a pressão popular faz a “situação agir assim”, numa obvia insinuação de que os dirigentes partidários só não lhe fizeram propostas de corrupção porque Bolsonaro é popular, não porque são honestos. O próprio Bolsonaro, em transmissão ao Facebook na quinta à noite, ressaltou várias vezes que as conversas não haviam incluído a troca de cargos, voltando a criminalizar a política.

Pontos que os presidentes e líderes dos partidos deixaram claro ao presidente:

• As mudanças propostas pela reforma da previdência para o BPC (assistência para idosos miseráveis) e aposentadoria rural não tem chance de passar

• O projeto de capitalização é polêmico

• A desconstitucionalização das regras previdenciárias não passa

• Os governadores querem incluir as Polícias Militares e professores estaduais no projeto

Foto: Leonardo Benassatto/Reuters

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