19 de abril de 2024
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Se Jair Bolsonaro “Dilmou” ao intervir na política de preços da Petrobras, como brincou o mercado, Paulo Guedes terminou o dia como Guido Mantega. Desde a melancólica demissão do ministro da Fazenda petista em uma entrevista numa inauguração de um conjunto do Minha Casa, Minha Vida, na periferia de Fortaleza, não se via uma humilhação pública tão grande. Guedes foi ignorado pelo presidente no ponto mais sensível de qualquer ministro, sua credibilidade.

No regime presidencialista, o poder de um ministro não é um direito, mas uma concessão. O seu alcance está vinculado à vontade de quem recebeu os votos. Isso vale hoje para Guedes, como antes para Palocci ou Malan. É ingenuidade supor que um presidente como Bolsonaro, eleito com 57,8 milhões de votos, se submeta a um assessor sem nenhum voto. A arte de um presidente é demonstrar o seu poder sem, ao mesmo tempo, impedir o trabalho de seu ministro.

O que Bolsonaro fez na sexta, 12, Dilma Rousseff fez inúmeras vezes com Guido Mantega. O resultado foi que por quatro anos, Mantega perdeu a autonomia para formular a política econômica e isso se tornou evidente para todos. A impotência de Mantega foi um dos fatores fundamentais para vários dos erros econômicos entre 2012 e 14.

Por outro lado, FHC mantinha dúvidas razoáveis sobre as diretrizes de Pedro Malan e Gustavo Franco, especialmente na área cambial ao longo do seu primeiro governo (1995-98). Ouvia vozes dissonantes, como Pérsio Arida, Lara Resende e Mendonça de Barros. Mas quando as dúvidas de algum modo contaminavam a autoridade de Malan, FHC nunca deixou o ministro na mão. Demitiu amigos e se distanciou de outros para preservar Malan como um ministro forte. FHC sabia por experiência que um ministro da economia fraco seria um peso insuportável para o governo.

Risco para a economia

O adiamento do reajuste do diesel custou R$ 32 bilhões no valor da companhia, mas tão grave é a possibilidade de esfacelar a dimensão de Guedes no governo JB. O ministro da economia já perdeu batalhas: a liberação de importação de leite em pó foi impedida por pressão dos ruralistas; a reforma dos militares incluiu uma reestruturação na carreira que custará mais que a própria reforma; o presidente fez ainda seguidas declarações de desdém pela reforma da previdência. Eram apenas demonstrações de como é difícil o cargo de Guedes. Na sexta, 12, foi algo maior.

Bolsonaro cometeu o maior pecado para o mercado, reavivou a síndrome do intervencionismo. Mesmo que recue na semana que vem, o vidro da confiança está quebrado. Quem em sã consciência se interessaria pelas refinarias que a Petrobras pretende vender se os preços dos combustíveis serão decididos pelo presidente, que se revelou um medroso do poder dos caminhoneiros? Se os preços internacionais seguirem em alta, o que Bolsonaro pretende fazer, voltar aos subsídios?

Bolsonaro cruzou uma linha que pode determinar o resto seu governo.

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

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