23 de abril de 2024
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Jair Bolsonaro é o maior risco para o governo Jair Bolsonaro. O eixo deste governo é o confronto, não o consenso, e que sob pressão o presidente irá sempre apelar a sua base eleitoral mais radical. Os últimos dias, no entanto, colocam em dúvida a capacidade de o presidente coordenar a sua própria base.

Bolsonaro foi eleito por uma aliança de forças heterogêneas e contraditórias que uniu a extrema-direita, militares, agentes do mercado financeiro, procuradores da operação Lava Jato, ruralistas, evangélicos e defensores de uma nova ordem moral, todos sob o manto do antipetismo. Funcionou na campanha, mas não no poder. O próprio Bolsonaro é a ignição das desavenças.

Tweet escandaloso

Ao tuitar um vídeo obsceno na segunda-feira de carnaval, JB tentava responder aos milhares de protestos espontâneos pelos blocos carnavalescos pelo País. Acusar os blocos de Carnaval de imorais era uma forma de desacreditar suas críticas e apelar ao público evangélico. Foi um escândalo global. No cenário internacional, Bolsonaro será para sempre o presidente que tuíta pornografia.

Twitter oficial Jair Bolsonaro (https://twitter.com/jairbolsonaro)

Acuado pelas críticas, Bolsonaro tentou buscar guarida nos militares. Em cerimônia para fuzileiros navais, na quarta-feira de manhã, no Rio de Janeiro, Bolsonaro comparou a sua eleição a uma missão. E prosseguiu:

“A missão será cumprida ao lado das pessoas de bem do nosso Brasil, daqueles que amam a pátria, daqueles que respeitam a família, daqueles que querem aproximação com países que têm ideologia semelhante à nossa, daqueles que amam a democracia. E isso, democracia e liberdade, só existe quando a sua respectiva Força Armada assim o quer”.

Na semana do carnaval retumbante em xingamentos ao presidente e à péssima repercussão ao tuíte pornográfico, o presidente afirmava a seus comandados que eles tinham o monopólio da garantia da democracia. Congressistas e jornalistas compreenderam rapidamente que a frase continha uma ameaça.

Militares amenizam discurso de Bolsonaro

O recuo veio rápido. Antes do início da tarde, Hamilton Mourão foi aos repórteres dizer que o presidente havia sido mal interpretado. “O presidente falou que onde as Forças Armadas não estão comprometidas com democracia e liberdade, esses valores morrem“, disse.

À TV Globo, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, disse que a frase não era polêmica pois “as Forças Armadas são o baluarte da democracia e da liberdade. Historicamente, em todos os países do mundo”.

Os congressistas reagiram muito mal ao discurso e Bolsonaro prometeu se redimir em uma transmissão ao vivo pelo Facebook. No programa, perguntou ao subordinado Heleno se o discurso deixava “alguma dúvida” sobre o compromisso do governo com a democracia. O ministro disse que não.

A transmissão, no entanto, foi outro desastre de comunicação por outro motivo. O desinteresse do presidente em defender a reforma da reforma da previdência é a reclamação número 1 da equipe de Paulo Guedes. Em quase três horas de transmissão, JB dedicou 1min40s sobre a reforma da previdência. Para comparar, ele usou 2min24s para criticar as lombadas eletrônicas nas estradas federais e 1min43s para criticar as cartilhas do Ministério de Saúde que ensinam jovens a colocar camisinha com desenhos de pênis. Anunciou que irá recolher as cartilhas de educação sexual. Essa é a sua prioridade.

Foto: Carolina Antunes/Presidência da República

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